A liturgia desta Quinta-feira da Oitava da Páscoa nos oferece um profundo convite à vivência da fé cristã com renovada esperança. A Palavra de Deus, proclamada nos Atos dos Apóstolos (At 3,11-26) e no Evangelho de Lucas (Lc 24,35-48), nos ajuda a mergulhar no mistério da ressurreição e na missão que ela nos confere. A experiência dos discípulos após a Ressurreição nos revela que a verdadeira transformação cristã ocorre na comunidade, no encontro, no anúncio e no testemunho vivo da fé.
A manifestação de Cristo na comunidade

Os discípulos de Emaús, após o encontro com o Ressuscitado, retornam a Jerusalém para compartilhar com os demais a boa nova. É neste contexto comunitário que Jesus novamente aparece e diz: “A paz esteja convosco”. Não é por acaso que Ele escolhe o ambiente da comunidade para se manifestar. A fé cristã não é uma experiência solitária; ela se fortalece e se aprofunda quando partilhada com os irmãos.
Santo Agostinho já afirmava: “Ninguém pode ter a Deus por Pai se não tiver a Igreja por Mãe”. É no seio da comunidade eclesial que Cristo continua a agir e transformar vidas. Ali, Ele abre os olhos e o coração dos discípulos para que compreendam as Escrituras, e é ali também que confirma a missão de serem Suas testemunhas.
Da dúvida à missão: a pedagogia de Jesus
Ao aparecer no meio dos discípulos, Jesus encontra-os assustados e cheios de dúvidas. Ele não os censura, mas pacientemente mostra-lhes Suas mãos e pés, partilha uma refeição e explica as Escrituras. Esta pedagogia divina continua presente em nosso tempo: o Senhor não nos abandona em nossas incertezas. Ao contrário, deseja nos encontrar em nossas fragilidades, curar nossas feridas e iluminar nosso entendimento.
Santa Teresa de Calcutá dizia: “O fruto do silêncio é a oração; o fruto da oração é a fé; o fruto da fé é o amor; o fruto do amor é o serviço; e o fruto do serviço é a paz”. Jesus, com gestos simples, ensina-nos que a fé deve ser acolhida com o coração e expressa na vida cotidiana.
Arrependimento e conversão: caminhos de restauração
Na primeira leitura, São Pedro deixa claro ao povo que o milagre realizado com o paralítico não provinha de sua força, mas da fé no nome de Jesus. Ele denuncia a rejeição de Cristo e, ao mesmo tempo, proclama a misericórdia de Deus, que oferece o perdão aos que se arrependem.
“Arrependei-vos e convertei-vos” – este chamado permanece atual. O tempo pascal é ocasião favorável para rever nossa caminhada espiritual. Como nos lembra São João Paulo II, “a conversão autêntica exige uma mudança radical da vida, uma volta total a Deus, um afastar-se do mal com repulsa pelos pecados cometidos”.
O poder da Palavra e o anúncio do Ressuscitado
Jesus não apenas ressuscitou, mas confiou aos discípulos uma missão: anunciar ao mundo a conversão e o perdão dos pecados. Este mandato, transmitido na força do Espírito, chega até nós. Somos chamados a viver e proclamar o Evangelho, sendo luz na vida dos outros.

O Catecismo da Igreja Católica nos recorda no §849: “O mandato missionário. ‘Enviando os seus discípulos a todas as nações, Jesus os instituiu apóstolos. Por isso, a Igreja, em obediência ao mandato de seu fundador e porque o exige a sua própria natureza, esforça-se por anunciar o Evangelho a todos os homens'”.
Aplicações práticas para nossa vida
- Vivência comunitária: Participar com regularidade da Santa Missa, dos grupos de oração, pastorais ou movimentos. Cristo se manifesta entre os irmãos.
- Conversão constante: Aproveitar o tempo pascal para uma boa confissão, renunciando ao pecado e abraçando uma vida nova em Cristo.
- Testemunho de fé: Levar a fé à família, ao trabalho e às redes sociais. Ser sinal de esperança em um mundo descrente.
- Acolhida da Palavra: Ler e meditar diariamente as Escrituras. Como Jesus, permitir que a Palavra abra a nossa inteligência e transforme nosso coração.
- Oração e serviço: Fortalecer a vida de oração pessoal e buscar servir aos irmãos com humildade, sobretudo os mais necessitados.
Uma espiritualidade de esperança
O Ressuscitado caminha conosco. Ele continua presente em nossa história, acalmando medos, curando feridas e reacendendo a fé. Quando duvidarmos ou estivermos tristes como os discípulos de Emaús, lembremo-nos: é na partilha do pão e na escuta da Palavra que reconhecemos o Senhor.
São Gregório Magno ensinava: “As Escrituras crescem com os que as leem”. Se buscarmos Cristo com sinceridade, Ele se revelará a nós, como fez com os primeiros discípulos.
Sejamos, portanto, testemunhas da Ressurreição. Que nossas palavras e atitudes proclamem: Cristo vive, e está conosco até o fim dos tempos!