A liturgia desta terça-feira continua a iluminar nosso caminho pascal com a mesma luz que brilhou no diálogo entre Jesus e Nicodemos. A Igreja, como uma mãe pedagoga, nos convida a aprofundar a compreensão sobre o que significa “nascer do alto” e como esse renascimento no Espírito se traduz em vida comunitária, santidade e entrega.
Uma Comunidade Transformada pelo Evangelho
Na primeira leitura (At 4,32-37), vemos uma descrição belíssima da comunidade cristã primitiva: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma.” Essa unidade profunda é fruto direto da ação do Espírito Santo. Eles não apenas compartilhavam bens materiais, mas também uma vida espiritual intensa. A experiência do Cristo ressuscitado gerava em seus corações um desejo autêntico de comunhão.

Esse é um ponto de conversão prático para nós: como está o nosso modo de viver em comunidade? Em casa, no trabalho, na Igreja, somos instrumentos de união ou de divisão? Como nos ensina Santo Agostinho, “Onde há caridade e amor, ali está Deus”. A verdadeira vida em Cristo se manifesta em relações autênticas.
Jesus e Nicodemos: O Chamado à Vida Nova
No evangelho (Jo 3,7b-15), Jesus continua a conversa iniciada no dia anterior com Nicodemos, aprofundando a necessidade do renascimento espiritual: “Vós deveis nascer do alto”. Nicodemos, mestre entre os judeus, demonstra certa incompreensão, o que mostra que a compreensão da vida espiritual não depende apenas de conhecimento intelectual, mas da abertura à graça.
Jesus mostra que o Espírito Santo é livre como o vento. Ele sopra onde quer e atua como quer. É necessário abandonar os esquemas humanos e deixar-se conduzir. O nascimento espiritual é a condição para ver o Reino de Deus. E como esse nascimento se manifesta? Através do batismo, da conversão constante e da vida de oracão.
Uma Aliança Inabalável
O texto que acompaha esta meditação, retirado de Hebreus 12,14-28, nos convida a buscar a paz e a santidade sem a qual ninguém verá o Senhor. Mostra também que não nos aproximamos de um Deus distante ou temível como no Antigo Testamento (a “montanha palpável, invadida por fogo”), mas de Jesus, o Mediador da Nova Aliança.
Esse trecho é um alerta: não deixemos que a graça de Deus passe em vão por nós. Como disse São João da Cruz: “Na noite escura da alma, não se vê o caminho, mas o Espírito Santo guia os que confiam.”

Caminhos Concretos para Viver Essa Palavra
- Renovar o compromisso com a santidade: É urgente buscarmos uma vida de retidão e pureza. A santidade é um chamado universal. Santa Teresa de Calcutá dizia: “A santidade não é um luxo, é uma obrigação”.
- Viver a unidade na comunidade: Em casa, na Igreja, no trabalho. Somos chamados à unidade. Cada um dá o que tem e recebe o que precisa.
- Ser testemunha da vida nova: Como Barnabé, sejamos filhos da consolação, levando esperança aos que sofrem.
- Dar lugar ao Espírito: Abramos espaço para a oração, a Palavra, a Eucaristia. O Espírito não atua onde não é acolhido.
- Escutar com temor e respeito: A voz de Deus não deve ser ignorada. É viva, atual, transformadora. Como está nossa escuta?
Conclusão
Que esta liturgia nos ajude a crescer na consciência de que precisamos, sim, nascer do alto e viver segundo o Espírito, mas também caminhar com os irmãos na caridade e no temor de Deus. Porque nosso Deus é fogo devorador, mas também Pai que acolhe e consola. Vivamos com reverência a graça que nos é oferecida e sejamos, com nossas atitudes, sinais do Reino.