Vivemos em uma era de ruídos. Sons, vozes, notificações, estímulos. O mundo parece gritar por atenção a cada segundo. Mas a liturgia de hoje, como um bálsamo, nos convida a parar, silenciar e ouvir. Ouvir verdadeiramente. Ouvir a Deus.

A fé vem pelo ouvido, não pelos olhos
O salmista clama: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: Não fecheis os vossos corações.” (Sl 94,8). A fé cristã não se funda em sinais espetaculares, mas na escuta obediente da Palavra. São Paulo confirma isso em sua carta aos Romanos: “A fé vem da pregação, e a pregação se faz pela Palavra de Cristo” (Rm 10,17).
Hoje, Jesus realiza um milagre: expulsa um demônio mudo e devolve a fala a um homem. A multidão se admira, mas alguns pedem mais sinais. Outros o acusam de agir pelo poder de Belzebu. O coração deles está fechado, incapaz de reconhecer a ação de Deus, mesmo quando ela se manifesta diante dos próprios olhos.
Essa cegueira espiritual não nasce da ausência de milagres, mas da falta de escuta interior. Eles viam, mas não criam. Porque não ouviam a voz do Senhor.

Quando o coração se fecha, a fé morre
A Primeira Leitura, do profeta Jeremias, é um lamento divino: o povo endureceu o coração. Mesmo diante da correção amorosa de Deus, mesmo após verem Seus sinais no deserto, preferiram seguir os próprios caminhos. O Senhor diz com tristeza: “Sua fé morreu, foi arrancada de sua boca” (Jr 7,28).
Quantas vezes, nos encontramos também assim? Com o coração ocupado demais, cheio de ruídos e distrações, surdo à voz do Espírito. Queremos respostas rápidas, sinais extraordinários, mas resistimos à conversão simples e silenciosa que nasce da escuta fiel da Palavra.
Jesus: o mais forte que liberta e recolhe
No Evangelho, Jesus nos apresenta uma imagem poderosa: um homem forte e bem armado guarda sua casa… até que chega alguém mais forte. Esse mais forte é Cristo. Ele é o único capaz de vencer o mal, desarmar o inimigo e libertar nossos corações. Mas Ele faz isso quando O acolhemos, quando estamos com Ele.
Ele é claro: “Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, dispersa” (Lc 11,23). Não há neutralidade. Ou somos discípulos atentos e obedientes, ou nos tornamos surdos e dispersos. O Reino exige decisão, fidelidade e escuta.
O silêncio fecundo e a escuta obediente
Hoje, o Senhor nos faz um convite: parar. Parar o barulho, a ansiedade, as justificativas. E ouvir. Ouvir com o coração. Ouvir com a disposição de obedecer. A verdadeira escuta transforma. Ela é geradora de fé, de esperança, de vida nova.
Santa Teresa d’Ávila dizia: “Na oração silenciosa, o Senhor fala ao coração; ali, Ele transforma.” E Santo Agostinho, que por muito tempo resistiu à voz de Deus, confessou: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova… estavas dentro de mim, mas eu fora de mim te procurava.”
Conclusão: abrir os ouvidos, abrir o coração
Que hoje, neste tempo quaresmal, possamos nos decidir por Cristo. Por mais silêncio interior. Por mais escuta da Palavra. Por menos distrações e mais fidelidade.
Oxalá ouvíssemos hoje a Sua voz… que ela não encontre em nós corações fechados, mas almas abertas e desejosas de conversão.