A alegria da ressurreição não é um sentimento passageiro, é uma transformação de vida
A liturgia de hoje, na oitava da Páscoa, nos apresenta um momento de profunda emoção e significado espiritual: o encontro de Maria Madalena com o Cristo Ressuscitado (Jo 20,11-18). Este episódio, tão conhecido e retratado na tradição da Igreja, nos revela uma das verdades mais centrais da nossa fé católica: Jesus venceu a morte e está vivo. E mais, Ele continua se revelando pessoalmente a cada um de nós.
Assim como Maria Madalena, também somos chamados a reconhecer Jesus ressuscitado que se apresenta às vezes de forma inesperada, em meio às nossas lágrimas e dores. A sua presença é capaz de transformar luto em alegria, medo em coragem, e dúvida em fé viva.
Maria Madalena: exemplo de busca sincera e de fé perseverante

Maria Madalena chorava porque achava que o corpo do Senhor tinha sido levado. A perda parecia total. Mesmo tendo caminhado com Jesus, ela ainda não compreendia plenamente a promessa da ressurreição. Quantos de nós também não compreendemos, em meio ao sofrimento, que o Cristo vivo caminha ao nosso lado?
No momento em que Jesus pronuncia seu nome, “Maria!”, ela o reconhece. Isso nos mostra o quanto a relação com Deus é pessoal. Ele nos chama pelo nome. Ele sabe quem somos, o que sentimos, e deseja um relacionamento de amor e verdade conosco.
Esse chamado exige resposta. Maria não guarda para si a boa nova. Ela vai aos discípulos e anuncia: “Eu vi o Senhor!”. Aqui está o coração da vida cristã: encontrar o Ressuscitado e se tornar testemunha viva Dele.
A Palavra que transforma e o Batismo que renova
Na primeira leitura (At 2,36-41), vemos o resultado do poder da Palavra proclamada com fé: três mil pessoas se converteram e foram batizadas. Pedro, cheio do Espírito Santo, anuncia com firmeza: “Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes”.
O povo, com o coração ferido pela verdade, pergunta: “O que devemos fazer?”. A resposta é clara: conversão e batismo. Essa é a chave para a vida nova que o Ressuscitado nos oferece. E essa vida nova não é uma simples mudança externa, mas uma transformação do coração, uma reorientação total da existência.

Hoje somos chamados a renovar o nosso batismo com consciência e gratidão. Recordar que somos filhos no Filho, membros do Corpo de Cristo e portadores da sua luz no mundo.
Aplicando a liturgia na nossa vida
- Confiança na providência divina: O salmo de hoje nos convida a confiar em Deus que é justo, fiel e cheio de amor. Mesmo nas dificuldades, devemos manter o olhar em Cristo e a esperança em seu amor. Essa é uma lição prática para os momentos em que nos sentimos perdidos: confiar que a graça não nos falta.
- Responder com testemunho: Como Maria Madalena e os primeiros convertidos, precisamos anunciar com a vida que vimos o Senhor. Isso se expressa nas nossas atitudes no trabalho, em casa, com os amigos. Viver o amor, a misericórdia e a verdade é o maior testemunho.
- Cuidar da vida interior: Assim como Maria foi ao sepulcro e chorava, muitas vezes vamos aos lugares de dor e perda em busca de sentido. Precisamos cultivar uma vida interior ativa: orar, meditar a Palavra, participar dos sacramentos. Só assim reconheceremos a voz do Senhor quando Ele nos chamar.
- Viver a Eucaristia com profundidade: A experiência pascal se renova a cada Missa. No partir do pão, Cristo se revela. Comungar não é um gesto automático, mas um encontro real com o Ressuscitado. Como Maria, sejamos capazes de reconhecê-lo ao nosso lado.
A Páscoa continua: o chamado é permanente
A celebração da Páscoa é o início de uma nova etapa na caminhada da fé. Cada dia é uma oportunidade de encontrar o Cristo vivo. Ele está nos pobres, nos sofridos, na Palavra, na Eucaristia e na comunidade. Está no irmão que precisa de consolo, está também nas pequenas alegrias que recebemos.
Cristo não está preso ao passado. Ele vive e caminha conosco. Ele fala ao nosso coração e quer nos conduzir ao Pai. Por isso, deixemo-nos encontrar por Ele, e como Maria Madalena, sejamos anunciadores de uma nova vida.
Conclusão:
Que possamos repetir com alegria e convicção: “Eu vi o Senhor!”. Que essa experiência pascal nos transforme profundamente e nos torne verdadeiros cristãos: firmes na fé, constantes na esperança e ardentes no amor.
Cristo ressuscitou! Aleluia! E com Ele ressuscita também a nossa esperança de um mundo novo, cheio de amor, paz e justiça.