A liturgia de hoje é uma verdadeira escola de transformação interior. A Primeira Leitura (At 4,1-12) e o Evangelho (Jo 21,1-14) nos mostram dois momentos marcantes da vida dos apóstolos: a coragem de Pedro e a reconciliação dos discípulos com sua missão após a Ressurreição. Esses textos não são apenas relatos do passado, mas espelhos que refletem nossa caminhada de fé.
De Covarde a Corajoso: A Ação do Espírito Santo
Pedro, aquele que negara Jesus três vezes por medo, hoje aparece no Livro dos Atos como um homem destemido, cheio do Espírito Santo. Preso injustamente, ele não recua. Pelo contrário, proclama com valentia: “É pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré, aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos, que este homem está curado diante de vós” (At 4,10).

O que transformou Pedro? O encontro com o Ressuscitado e o poder do Espírito Santo. É o mesmo Pedro, mas agora ungido, renovado. Isso nos ensina que o medo pode ser vencido quando somos cheios do Espírito. Como diz Santa Teresa d’Ávila: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, só Deus não muda. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta.”
O Risco de Voltar à Vida Velha
No Evangelho de João, vemos Pedro dizendo: “Eu vou pescar”. E os outros discípulos o acompanham. Depois de tudo o que viveram com Jesus, após a crucificação e a morte, o abatimento os levou a retornar à antiga vida. Essa atitude ecoa o que muitos de nós fazemos após decepções e quedas: voltamos à zona de conforto.
Padre Léo dizia: “Quem está ferido e decepcionado corre o risco de abandonar sua vocação e voltar à velha vida”. Quantos de nós, ao passarmos por frustrações, nos afastamos da oração, da missa, da Palavra? A boa notícia é que o próprio Jesus vai ao encontro dos apóstolos, à beira do mar, e os reconduz à missão.
Ele Está à Margem da Nossa Vida
“Jesus estava de pé na margem, mas os discípulos não sabiam que era ele.” Quantas vezes, em nossos momentos de tristeza e frustração, Jesus também está à margem da nossa vida, esperando que O reconheçamos?
Ele não acusa, não cobra, apenas convida: “Tendes alguma coisa para comer?” (Jo 21,5). Quando obedecem Sua orientação e lançam as redes do lado direito, vêm a abundância. Esse é o sinal: Jesus está presente e deseja nos conduzir novamente ao milagre da graça.
Reconhecer Jesus é Ato de Amor
João, o discípulo amado, é quem primeiro reconhece: “É o Senhor!” (Jo 21,7). Quando estamos perto do Coração de Jesus, quando cultivamos uma amizade profunda com Ele, conseguimos percebê-Lo mesmo nas entrelinhas da vida.
É por isso que Santa Teresinha dizia: “O amor tudo pode. O verdadeiro amor conhece Jesus e não teme obedecer-Lhe”. O amor abre nossos olhos.
Um Chamado à Confiança e Perseverança
Ao lançarem a rede, os discípulos recolhem 153 grandes peixes. O detalhe do número mostra que o milagre é concreto, palpável. O que parecia uma noite vazia e infrutífera se transforma em abundância pela obediência.
Em nossa vida, quando lançamos nossas redes segundo a orientação de Jesus, mesmo que tudo pareça perdido, o milagre vem. Pode ser no casamento, na educação dos filhos, no ministério ou na caminhada pessoal. Como disse São José Maria Escrivá: “A perseverança é a condição da santidade”.
Ele Nos Alimenta e Restaura

Na praia, Jesus prepara brasas, peixe e pão. Ele mesmo serve. Esse gesto simples revela a essência do Seu amor: Ele é o Deus que cuida, que não desiste, que não se impõe, mas se oferece.
O Senhor não apenas nos orienta, mas também nos alimenta. Eucaristia é isso: Jesus que prepara mesa para nós, mesmo quando não merecemos.
Aplicando à Nossa Vida
- Permita-se ser transformado pelo Espírito Santo. Reze pedindo o dom da coragem para testemunhar Jesus.
- Cuidado com o desejo de retornar à antiga vida. Quando a caminhada parecer dura, não retroceda.
- Esteja atento aos sinais da presença de Jesus. Ele está à margem da sua vida, mesmo quando você não O vê.
- Obedeça mesmo sem entender. Lançar a rede do lado direito pode parecer simples, mas na obediência está o milagre.
- Permaneça na comunidade. Foi na comunidade que Pedro e João experimentaram o milagre e enfrentaram a perseguição.
Como nos ensina Santo Agostinho: “A medida do amor é amar sem medida”. Que possamos viver esse amor em fidelidade ao Cristo ressuscitado.