A liturgia de hoje, com o emocionante encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos a caminho de Emaús (Lc 24,13-35), e a poderosa cura do coxo pelo nome de Jesus (At 3,1-10), é um convite claro para renovarmos nossa capacidade de reconhecer o Senhor presente nas estradas do nosso cotidiano. A Palavra nos provoca a termos corações ardentes e olhos abertos para ver e testemunhar o Ressuscitado.
O encontro no caminho: quando Jesus caminha conosco
Os dois discípulos de Emaús estavam mergulhados na dor, na decepção e na frustração. Haviam colocado todas as esperanças em Jesus, mas agora voltavam para casa sem rumo. Assim como muitos de nós, que em meio a dores e derrotas, às vezes pensamos que Deus nos abandonou. Mas é justamente aí que Ele se aproxima.

Jesus caminha com eles e os escuta. Ele não se impõe, mas pergunta: “O que ides conversando pelo caminho?” (Lc 24,17). O Senhor deseja conhecer nossas angústias, Ele quer dialogar, iluminar com a Palavra, abrir nosso entendimento e, sobretudo, acender novamente a chama da fé em nossos corações.
Santa Teresa de Ávila dizia: “O caminho da oração é a porta pela qual Jesus se aproxima de nós”. A escuta da Palavra e a intimidade com Deus vão transformando a tristeza em ardor.
Reconhecer o Senhor ao partir o pão
Os olhos dos discípulos se abrem no gesto eucarístico: “tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuiu” (Lc 24,30). Esse gesto evoca a instituição da Eucaristia. É ali que reconhecem Jesus. A presença real de Cristo na Eucaristia é para nós uma fonte constante de força, consolo e direcionamento.
Santo Tomás de Aquino ensinava que “na Eucaristia está contido o mesmo Jesus que nasceu da Virgem Maria, sofreu na cruz e ressuscitou glorioso”. Por isso, o partir o pão não é só um ritual. É o encontro com o Cristo vivo, que nos alimenta para a caminhada e transforma a nossa existência.
Quando tudo parece perdido: a esperança renasce
Assim como os discípulos, muitas vezes também nós estamos cegos, não por falta de visão, mas por falta de fé. A dor pode nos cegar, a rotina pode nos distrair, o medo pode nos paralisar. Mas o Ressuscitado continua caminhando conosco.
O mesmo Jesus que abriu os olhos dos dois em Emaús, continua hoje se revelando a nós, nos gestos simples da caridade, na Palavra proclamada, na oração pessoal e na vida em comunidade.
Pedro e o milagre do cotidiano
Nos Atos dos Apóstolos, vemos Pedro curando um coxo de nascença (At 3,1-10). O milagre é precedido por uma afirmação poderosa: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” (v. 6).

Pedro não oferece riqueza material, mas oferece o que tem de mais precioso: a fé no poder do Nome de Jesus. E é essa fé que transforma, levanta, cura e devolve dignidade.
Nosso mundo precisa desse testemunho. Precisamos ser cristãos que, como Pedro, ofereçam mais do que esmolas: ofereçam a graça de um encontro com Jesus que cura por inteiro.
Aspectos práticos para a vida cristã
- Buscar o Senhor com o coração ardente: Não basta seguir Jesus apenas com a razão. É preciso deixar-se tocar pela Palavra, acolher a Eucaristia como alimento e pedir a graça de viver com o coração inflamado de amor por Ele.
- Estar atento às visitas de Deus: Jesus se aproxima em momentos inesperados. Pode ser em um conselho amigo, em uma pregação, ou mesmo na escuta silenciosa da Escritura. Esteja atento!
- Partilhar o que recebemos: Como Pedro, podemos também dizer: “o que tenho eu te dou”. Deus não espera que tenhamos muito, mas que entreguemos com generosidade o que temos: tempo, escuta, oração, caridade.
- Valorizar a Eucaristia: A Santa Missa é o ponto alto da nossa vida espiritual. Participar com fé, recolhimento e gratidão transforma nosso olhar e fortalece nosso espírito.
Uma espiritualidade do caminho
O Papa Francisco, comentando este trecho do Evangelho, disse: “Jesus caminha conosco, mesmo quando não o reconhecemos. E, quando O reconhecemos, Ele acende nosso coração e nos faz voltar ao caminho com coragem.”
Nosso caminho nem sempre será fácil. Haverá pedras, dúvidas, decepções. Mas não estamos sozinhos. Se acolhermos Jesus, Ele transformará nossas estradas em escola de discipulado e nossas quedas em oportunidades de conversão.
Conclusão
A história dos discípulos de Emaús é também a nossa. Somos chamados a reconhecer Jesus em cada etapa da vida, a ter o coração inflamado por Sua Palavra e os olhos abertos ao partir o pão. E como Pedro, seremos instrumentos da Sua presença viva para tantos que já não esperam mais nada da vida.
Então, que hoje possamos repetir: “Transborda em toda a terra a bondade do Senhor” (Sl 32), e fazer da nossa vida um eco da presença do Ressuscitado.