“Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, sem o saberem, hospedaram anjos.”
— Hebreus 13,2
Vivemos em uma sociedade marcada pela acumulação, pelo individualismo e pela crença de que ter é sinônimo de ser bem-sucedido. Mas a Palavra de Deus e a espiritualidade cristã nos revelam outro caminho: a partilha que liberta e nos aproxima do Céu. No Dia 26 do livro “A Luta de Cada Dia”, Márcio Mendes nos convida a refletir profundamente sobre o valor de doar-se, amar com atitudes e fazer da caridade um estilo de vida — sem ingenuidade, mas com sabedoria.

1. O Evangelho da partilha: um antídoto contra a escravidão do egoísmo
O próprio Cristo, sendo Deus, fez-se pobre por amor a nós (cf. 2Cor 8,9). Ele não apenas ensinou a partilhar, Ele viveu o despojamento radical. Nas palavras de Márcio Mendes: “Nosso Senhor quis combater esse mal com o remédio oposto: ficou tão pobre que nem sequer tinha onde apoiar a cabeça”.
A pobreza evangélica não é miséria, mas liberdade em relação aos bens, entendendo que tudo o que temos é dom de Deus e precisa servir ao bem comum (cf. CIC 2444). É justamente esse espírito que liberta o coração da cobiça e faz nascer um novo mundo a partir do serviço.
2. A caridade precisa de discernimento: partilhar sem se expor
Muitos se ferem por confundir caridade com falta de limites. Márcio Mendes alerta sabiamente que não se deve confundir caridade com familiaridade indiscreta. O amor cristão exige prudência: abrir o coração e a casa precisa de discernimento. O Catecismo da Igreja Católica nos lembra que a caridade “deve ser exercida com sabedoria” (cf. CIC 2447).
Jesus curava, acolhia e partilhava, mas também se retirava para orar, não permitia invasões que desvirtuassem sua missão (cf. Mt 14,23). Portanto, amar com atitudes concretas não significa ser passivo diante da maldade ou ingenuidade diante de intenções alheias.
3. A ciência confirma: quem partilha vive melhor
Estudos na área da psicologia positiva e neurociência comprovam que praticar a generosidade ativa áreas do cérebro ligadas à felicidade e ao propósito de vida. Uma pesquisa publicada no Nature Communications (Moll et al., 2006) revelou que ajudar os outros ativa o sistema de recompensa do cérebro, promovendo bem-estar emocional e diminuindo sintomas de ansiedade e depressão.

Além disso, pesquisadores da Universidade de Notre Dame observaram que pessoas engajadas em atividades voluntárias regulares têm uma expectativa de vida mais longa e maior satisfação pessoal (Lawler, 2013).
Ou seja, a ciência confirma o que o Evangelho já nos ensinava: é dando que se recebe (cf. At 20,35).
4. Desapegar com sabedoria: abrindo mãos e coração
A verdadeira partilha começa quando reconhecemos que os bens que temos não são nossos, mas dons para servir o próximo. Por isso, o livro nos exorta: “Abra o seu coração e partilhe algo que edifique alguém, fazendo-o se sentir uma pessoa melhor.”
Essa prática nos aproxima da essência do Cristianismo: amar o próximo como a si mesmo (cf. Mt 22,39), colocando as necessidades dos outros acima das nossas. E esse amor deve ser equilibrado: com discernimento, cuidado e sem desrespeitar nossos próprios limites.
5. Conclusão: Partilhar é plantar eternidade
A partilha cristã é mais do que doar coisas: é abrir espaço no coração, permitir que Deus use nossa vida como ponte de salvação para outros. Quando partilhamos com sabedoria, construímos vínculos, curamos feridas e iluminamos a escuridão de alguém.
Como nos lembra São Josemaria Escrivá:
“Experimentas-te pensar em Jesus e, por Ele, pensar nos outros?”
Que o Espírito Santo nos conduza a essa sabedoria do dar-se. Que partilhar não seja um ato ocasional, mas uma vocação diária, vivida com coragem, prudência e amor.