“Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais.” (Jo 8,11)
A liturgia de hoje nos conduz a um dos encontros mais impactantes de toda a Escritura: Jesus e a mulher surpreendida em adultério. Nele, vemos a beleza da misericórdia de Deus se manifestar de forma plena, sem negar a verdade da Lei, mas elevando-a à perfeição do amor.

É nesse encontro que a justiça divina se encontra com a fragilidade humana, e onde a condenação dá lugar à possibilidade de um novo começo.
1. A Lei e a armadilha da hipocrisia
Os fariseus e doutores da Lei trouxeram a Jesus uma mulher pega em flagrante adultério (Jo 8,1-11). Segundo a Lei de Moisés, ela deveria ser apedrejada. Mas a intenção deles era outra: armar uma armadilha contra Jesus, buscando algo para acusá-lo.
Eles conheciam a letra da Lei, mas estavam cegos quanto ao espírito da Lei. Usaram a Lei como instrumento de morte, e não de conversão. O pecado da mulher tornou-se, para eles, uma oportunidade de condenação, não de salvação.
Quantas vezes, em nossa vida e mesmo em ambientes religiosos, as faltas dos outros viram combustível para julgamento, fofoca e condenação, em vez de ocasião para misericórdia e ajuda?
2. Jesus escreve no chão: a sabedoria que silencia os acusadores
Diante da acusação, Jesus não responde imediatamente. Ele escreve no chão com o dedo, em gesto misterioso. Muitos padres da Igreja interpretam isso como um sinal da paciência divina e do tempo de reflexão antes do juízo.
Quando finalmente fala, Jesus diz:
“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra.” (Jo 8,7)
Com essa frase, Ele desmonta a hipocrisia dos acusadores, fazendo com que cada um encare sua própria miséria interior. Um a um, vão embora.
3. Misericórdia que não nega a verdade
Jesus, então, volta-se à mulher. Ele não a humilha, não a expõe, não a condena. Ele diz:
“Mulher, onde estão os que te condenavam?… Nem eu te condeno. Vai, e não peques mais.”
Aqui está o centro da mensagem cristã: Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. A misericórdia não é omissão ou indiferença ao mal, mas uma ponte que leva da queda à salvação.
Jesus não aboliu a Lei. Ele a elevou: do legalismo frio à verdade que salva. A mulher estava errada, sim. Mas o amor de Deus lhe oferece uma chance de recomeçar.
4. O convite à reconciliação

Este episódio é uma imagem perfeita do Sacramento da Reconciliação. Todos nós somos essa mulher: culpados, quebrados, envergonhados. Mas quando nos aproximamos de Jesus com coração contrito, não encontramos pedras, mas braços abertos.
Quantos hoje vivem esmagados pela culpa, por erros do passado, por acusações que repetem internamente? A resposta de Jesus permanece viva:
“Nem eu te condeno.”
O chamado é claro: vá, e não peques mais. A misericórdia verdadeira exige mudança de vida. É amor que transforma, não que acomoda.
5. A Misericórdia como estilo de vida cristão
A liturgia de hoje também nos interpela: temos vivido como portadores da misericórdia de Deus?
- Somos rápidos para julgar ou para acolher?
- Sabemos estender a mão a quem caiu?
- Conseguimos reconhecer que também precisamos ser perdoados?
A misericórdia é a marca do verdadeiro discípulo. Não há santidade sem perdão, não há evangelho sem amor ao pecador.
6. Misericórdia que nos compromete
Receber a misericórdia de Deus nos compromete. Quem foi perdoado, precisa perdoar. Quem foi acolhido, precisa acolher. Quem foi restaurado, deve ajudar a restaurar.
A mulher que estava prestes a morrer, ao encontrar Cristo, ganha nova vida. Ela representa cada um de nós, e também aqueles a quem somos chamados a anunciar a Boa Nova.
O perdão de Deus não apenas limpa o passado — ele inaugura um futuro novo.
Conclusão: A misericórdia é maior que o pecado
A cena da mulher adúltera nos ensina que não há pecado maior que a misericórdia de Deus. Não há queda que Ele não possa levantar. Mas é preciso reconhecer o erro, abrir o coração e permitir-se ser alcançado.
Cristo não veio para nos acusar. Ele veio para nos libertar. E hoje, Ele olha para você com o mesmo olhar que lançou sobre aquela mulher: um olhar que restaura, que levanta, que cura.
“Vai, e não peques mais.”
Essa é a promessa e também o chamado.
É tempo de recomeçar.
Eu gosto muito de lê a bíblia,pois renova nossos corações