“Mas se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis então nas minhas palavras?” (Jo 5,47)
A liturgia de hoje nos mergulha em uma cena de confronto espiritual e verdade salvífica. De um lado, está a fidelidade imutável de Deus, que age por meio de profetas, sinais e misericórdia; do outro, um povo de dura cerviz, que insiste em buscar glória humana e rejeita o testemunho do próprio Deus. Entre os dois extremos, surge Jesus, a Palavra viva, a Verdade que salva, oferecendo-se mais uma vez à fé de quem tem ouvidos para ouvir e coração para acolher.
Mas o que isso tem a ver conosco, católicos do século XXI? Tudo.

1. A idolatria ontem e hoje: o perigo de substituir Deus
Na Primeira Leitura (Êx 32,7-14), o povo de Israel troca rapidamente a glória do Deus vivo por um bezerro de ouro, símbolo da segurança visível, do prazer, da autonomia ilusória. Esse episódio não é apenas um fato do passado — ele se repete a cada vez que substituímos Cristo por ídolos modernos: dinheiro, vaidade, ideologias, ego, controle, vícios emocionais e espirituais.
“Bem depressa desviaram-se do caminho que lhes prescrevi.” (Ex 32,8)
Somos tentados a buscar um “deus” à nossa medida, que nos diga o que queremos ouvir. Mas esse “deus” não salva. Só Cristo salva. E crer n’Ele é mais do que reconhecer Seu nome — é deixar-se conduzir por Sua verdade, viver como Ele viveu, amar como Ele amou.
2. Jesus, a única verdade que liberta

No Evangelho (Jo 5,31-47), Jesus apresenta testemunhas que confirmam Sua identidade divina: João Batista, as Escrituras, as obras realizadas, o próprio Pai. Não porque Ele precise disso — Ele mesmo afirma: “Eu não dependo do testemunho de um ser humano.” (Jo 5,34) — mas para que nós tenhamos base para crer e sejamos salvos.
“Examinais as Escrituras… mas não quereis vir a mim para ter a vida eterna!” (Jo 5,39-40)
A tragédia espiritual não está apenas em desconhecer a Palavra, mas em recusar-se a vivê-la, mesmo quando a conhecemos. Crer em Jesus exige mais do que leitura — exige decisão. Fé verdadeira não é apenas uma ideia aceita, mas uma vida transformada.
Como bem disse São Paulo: “Já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim.” (Gl 2,20)
3. A glória que vem de Deus x a glória que vem dos homens
Jesus revela o motivo pelo qual muitos não creem: “Vós recebeis glória uns dos outros, e não buscais a glória que vem do único Deus.” (Jo 5,44)
Quantas vezes, mesmo em ambiente cristão, buscamos reconhecimento humano mais do que a fidelidade ao Evangelho? Quantas decisões tomamos baseadas na aceitação do grupo, do algoritmo, do mercado — e não naquilo que agrada a Deus?
Crer em Jesus é romper com a lógica do aplauso e viver pela Verdade, mesmo que ela custe a cruz.
4. A intercessão de Moisés e a intercessão de Cristo
O salmo e a leitura mostram o poder da intercessão. Moisés se coloca entre Deus e o povo infiel, implorando misericórdia. E o Senhor, por amor a Sua aliança, desiste de destruir o povo.
Hoje, Cristo é o novo Moisés, o único mediador entre Deus e a humanidade. Ele intercede constantemente por nós, mesmo quando caímos em idolatria, mesmo quando nossa fé vacila. Mas é necessário dar-lhe crédito, ouvi-Lo com o coração aberto, viver Sua palavra.
5. Crer em Cristo é resistir à condenação
Jesus não é apenas uma figura histórica inspiradora. Ele é o critério de julgamento, o Salvador e também o Juiz. Não crer n’Ele é, como disse, um atestado de condenação (cf. Mc 16,16).
A fé católica não é sentimentalismo, nem adesão parcial. É um sim completo, constante, concreto. Ser católico é não negociar a verdade, não adorar bezerros modernos, não moldar Jesus à própria vontade, mas moldar a própria vida à vontade de Jesus.
Conclusão: viver como testemunhas da Verdade
Wesley, a mensagem de hoje é clara: quem crê em Cristo vive como Ele. Quem apenas o admira, mas não o segue, ainda não compreendeu o Evangelho.
Que hoje seja um dia de exame de consciência:
Em que aspectos da minha vida tenho buscado outros “deuses”?
Tenho aceitado o testemunho de Cristo ou me contentado com glórias passageiras?
Tenho vivido como quem crê ou apenas como quem ouve?
Que o Senhor nos livre da dureza de coração, nos ajude a renunciar às falsas seguranças, e nos configure inteiramente à Sua verdade, para que sejamos — de fato — disruptores de vidas, a começar pela nossa.