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Reflexão – Piscina da Misericórdia: Encontrar, ser curado e viver como fonte

Rida vida plena

“Queres ficar curado?” (Jo 5,6)

A liturgia desta terça-feira da 4ª semana da Quaresma nos conduz ao coração da misericórdia de Deus, apresentada com duas imagens potentes e complementares: o rio que brota do Templo e dá vida por onde passa (Ezequiel 47) e a piscina de Betesda, onde a esperança parecia escassa, mas onde Jesus se revela como a verdadeira fonte de cura e restauração (João 5).

Essas leituras nos falam de cura, de transformação interior e do chamado a uma nova vida, mas também nos alertam para as barreiras invisíveis que nos impedem de acessar essa graça: o egoísmo, a indiferença, a incredulidade e a estagnação espiritual.


1. A água que transforma – O rio do Templo

O profeta Ezequiel contempla uma visão extraordinária: um rio que brota do lado do Templo, aumenta em profundidade à medida que corre e transforma tudo por onde passa. Ele cura, dá vida, fertiliza a terra, alimenta e restaura. A água que jorra do Templo é símbolo da graça que brota do próprio Deus.

Essa imagem antecipa o que Jesus cumpriria de modo perfeito: “Do seu lado aberto jorraram sangue e água” (Jo 19,34). Cristo é o novo Templo, e d’Ele brotam os sacramentos, especialmente o Batismo e a Eucaristia, que nos regeneram e fortalecem.

O profeta destaca que onde quer que o rio chegue, ali há vida. Isso nos desafia a perguntar: Tenho deixado esse rio passar por mim? Ou permaneço estagnado à beira das águas, como o paralítico de Betesda, esperando que algo aconteça sem permitir-me ser tocado por Deus?


2. A piscina de Betesda – Lugar de esperança e solidão

A cena do Evangelho nos leva a Jerusalém, ao tanque de Betesda, um lugar que deveria ser de cura, mas se tornou um símbolo de solidão e exclusão. Ali estava um homem há 38 anos esperando ajuda, mas ninguém o conduzia à água quando ela se movia. Quantos de nós vivemos assim: à beira da graça, mas impedidos de tocá-la por causa da indiferença ou do egoísmo alheio – ou do nosso próprio?

Jesus, ao se aproximar, quebra o ciclo de espera e passividade. Ele pergunta: “Queres ficar curado?” — uma pergunta que atravessa os séculos e chega hoje até nós. A cura começa não na água agitada, mas no encontro com a Palavra que se fez carne, com Aquele que é a própria misericórdia encarnada.

O paralítico é curado não porque entrou na piscina, mas porque acolheu a voz de Cristo. O novo santuário é o próprio Jesus, a nova piscina é o Seu Coração, sempre disponível, sempre cheio de misericórdia.


3. O egoísmo que nos impede de conduzir o outro até a graça

Por 38 anos ninguém levou aquele homem até a piscina. A cena revela o drama da autossuficiência e do individualismo até mesmo num ambiente onde se busca a cura. Cada um buscava o próprio milagre, sem perceber que, ao ajudar o outro, poderia também ser curado.

A misericórdia de Cristo não é seletiva, é expansiva, e quem a recebe é chamado a torná-la visível ao próximo. Viver a misericórdia é romper com essa lógica egoísta e ser canal de cura para os que ainda não conseguem caminhar sozinhos.


4. Curar-se é também um chamado à conversão

Jesus reencontra o homem curado no Templo e diz: “Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior.” A cura física foi o começo, mas o chamado à transformação de vida é o centro do milagre.

A misericórdia de Deus não nos acomoda, ela nos lança para a conversão. Receber a graça não é um fim em si, mas um novo começo. O pecado, aqui, não é apenas uma queda moral: é tudo aquilo que nos paralisa espiritualmente, que nos impede de viver como filhos amados de Deus.


5. O Salmo: Deus é refúgio, mas também impulso

O Salmo 45 canta que “os braços de um rio vêm trazer alegria à cidade de Deus”. Esse rio é a presença constante de Deus, que consola, fortalece e envia. Ele é nosso refúgio, sim, mas também nos impulsiona à missão de espalhar Sua misericórdia.


Conclusão: viver mergulhado na misericórdia

Hoje, o Senhor nos convida a mergulhar nesse rio que cura, a sair da margem da espera e entrar no fluxo da graça. A piscina de Betesda é agora a Eucaristia. É o altar onde encontramos o Cristo que cura e restaura.

Que o Espírito Santo nos conduza ao lugar da misericórdia – e que este lugar seja nosso coração, purificado pela graça e disponível ao outro. Que sejamos curados e, ao mesmo tempo, instrumentos de cura na vida de quem ainda espera ser alcançado.

“Queres ser curado?”
Hoje, Jesus nos pergunta novamente. E nos oferece não apenas a cura do corpo, mas a salvação da alma e a liberdade da misericórdia.

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