“O homem acreditou na palavra de Jesus e foi embora.” (Jo 4,50)
Na liturgia de hoje, somos levados a contemplar dois movimentos fundamentais da fé cristã: o primeiro é o de crer na promessa, mesmo sem ver; o segundo, mais exigente e transformador, é viver a partir dessa fé, configurando-se a Cristo.

No Evangelho de João, encontramos um milagre silencioso, sem espetáculo, sem gestos extraordinários. Jesus não se move até a casa do menino doente, não toca, não impõe as mãos, não levanta a voz. Apenas diz: “Teu filho está vivo.” E o funcionário do rei, que tinha descido de Cafarnaum em desespero, acreditou na Palavra e voltou para casa com o coração cheio de esperança.
Esse gesto — confiar apenas na Palavra — é, por si só, o verdadeiro milagre.
1. Crer sem ver: o salto da fé madura
Jesus responde com firmeza ao pedido do pai: “Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais.” Aqui está uma crítica velada à fé sensacionalista, baseada apenas em sinais visíveis, na fé que precisa “ver para crer”.
Esse tipo de fé é infantil, instável, vulnerável às tempestades da vida. É a fé que se apaga quando o milagre não vem, quando a cura não acontece, quando o céu parece em silêncio. Mas Jesus nos convida a um nível mais profundo: a fé que confia na Palavra, mesmo quando os olhos não veem.
Essa é a fé madura. A fé que escuta, acolhe e caminha. Uma fé que não precisa de provas para continuar acreditando. Uma fé como a de Maria, que disse “faça-se em mim segundo a tua Palavra”, mesmo sem entender tudo.
2. O milagre mais profundo: a conversão da casa inteira
O funcionário do rei volta para casa e encontra seu filho curado. Ao descobrir que a cura aconteceu exatamente na hora em que Jesus falou, ele e toda sua família abraçam a fé. Eis aqui o verdadeiro sinal: o milagre de uma vida transformada pela Palavra.
Jesus curou o filho, sim. Mas o maior milagre foi curar o coração do pai, abrir-lhe os olhos da alma, fazer brotar nele e em sua casa a fé em Cristo. A cura física foi sinal de algo maior: a restauração interior de uma família inteira.
3. A nova criação: Isaías anuncia o tempo da alegria
Na Primeira Leitura, o profeta Isaías anuncia que o Senhor criará novos céus e nova terra, onde “não mais haverá pranto nem dor”. É uma profecia escatológica, sim, mas também uma realidade que começa aqui e agora, quando permitimos que a Palavra de Deus recrie nossa existência.
“Coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória.” (Is 65,17)
Crer na Palavra de Cristo é aceitar viver como criatura nova. É deixar o velho mundo — a vida de incredulidade, de desconfiança, de orgulho — e abraçar a vida no Espírito, na confiança, na humildade, na alegria.
4. A maturidade da fé: viver como Cristo
Crer não é apenas repetir orações ou pedir bênçãos. Crer é configurar-se à vida de Cristo, assumir seus valores, suas escolhas, seu modo de amar. O verdadeiro discípulo não vive à espera de milagres; ele se torna sinal vivo do milagre do amor de Deus no mundo.

O pai do menino voltou para casa com o coração cheio de fé, sem ter ainda visto a cura. Esse é o tipo de fé que transforma. Fé que caminha antes de ver. Fé que age antes de ter todas as respostas. Fé que crê porque confia na fidelidade de quem prometeu.
5. O convite do Senhor: “Deixai-vos alcançar”
A fé madura não é fruto de esforço próprio, mas de abertura à ação da graça. Jesus, ao curar o filho e tocar a alma do pai, mostra que a salvação é dom, e cabe a nós deixar-nos alcançar, como diz São Paulo na liturgia de ontem: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).
O Salmo de hoje expressa bem esse caminho de transformação: “Transformastes o meu pranto em uma festa… eternamente hei de louvar-vos.” (Sl 29)
Quem crê, mesmo sem ver, vive já a alegria do Reino, porque permite que a Palavra recrie sua vida.
Conclusão: crer na Palavra é viver a eternidade no presente
O milagre que o Senhor quer fazer hoje em nós não é apenas externo, mas profundo. Ele deseja nos dar um coração novo, uma fé madura, uma vida configurada à d’Ele. A fé que salva é a que confia e caminha, mesmo sem ver os sinais.
Que hoje o Senhor nos conceda a graça de crer em Sua Palavra e viver como Ele viveu, sendo sinais de reconciliação e nova criação neste mundo ferido.
Olha, muito gratificante gostei muito