
No dia 25 de março, a Igreja celebra com solenidade a Anunciação do Senhor, um dos mistérios mais profundos da nossa fé: o momento em que o Verbo eterno de Deus se encarna no seio virginal de Maria, por obra do Espírito Santo. Esse dia marca o início da nossa redenção. Deus se fez carne. O céu tocou a terra. O eterno entrou no tempo.
A liturgia de hoje nos convida a contemplar o mistério do “sim” — não apenas como uma resposta positiva, mas como uma entrega total à vontade de Deus. Maria, com humildade e coragem, responde ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Esse fiat (do latim: “faça-se”) ecoa o mesmo espírito que guiou Jesus até a cruz: “Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,9).
Ambos, Maria e Jesus, disseram “sim” não a um plano confortável, mas a um caminho de amor sacrificial. O “sim” de Maria abriu o caminho para que o Verbo habitasse entre nós; o “sim” de Jesus levou esse mistério até as últimas consequências — até a cruz, até a salvação do mundo. Esses dois “sins” não estão separados; são expressões de uma única obediência, uma única entrega, um único amor.
Maria: modelo da alma obediente

A obediência de Maria é silenciosa, interior, profundamente contemplativa. Ela não questiona como os poderosos fariam; ela apenas pergunta: “Como se fará isso?”, não por incredulidade, mas por fé que deseja compreender para melhor servir. E ao ouvir que será o Espírito Santo a realizar a obra, ela entrega-se inteira.
Santo Tomás de Aquino diz que “Maria concebeu pela fé antes de conceber no ventre”. E Santo Agostinho completa: “Ela acreditou com o coração antes de gerar com o corpo”. Seu sim não foi uma aceitação passiva, mas uma colaboração ativa com a vontade de Deus. Ela se torna, como diz o Concílio Vaticano II, a “nova Eva”, mãe de todos os viventes, cooperadora da Redenção.
Jesus: obediente até a morte
A Carta aos Hebreus, proclamada na segunda leitura da liturgia de hoje, revela a profundidade do sim de Jesus: “Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade”. Ele não veio para oferecer sacrifícios exteriores, mas para fazer-se Ele mesmo o sacrifício vivo. Sua carne, assumida por Maria, torna-se o lugar onde a vontade de Deus se cumpre perfeitamente.
Essa obediência de Cristo é o coração da nossa salvação. Como diz Santo Irineu, “o Filho de Deus fez-se filho do homem para que o homem se tornasse filho de Deus”. O sim de Jesus repara o não de Adão. Ele assume a cruz com liberdade, não como imposição, mas como escolha de amor. Seu “faça-se” no Getsêmani — “não se faça a minha vontade, mas a tua” — é o eco do fiat de Maria em Nazaré.
Configurando-nos à vontade do Pai
Em minha percepção o sim de Maria se configura perfeitamente ao sim de Jesus é profundamente verdadeira e espiritual. Ambos nos mostram que a santidade é, essencialmente, uma configuração à vontade do Pai. E essa vontade não é opressora, mas libertadora. Não nos tira a identidade, mas a eleva à plenitude.
Na vida concreta, esse sim pode se manifestar em coisas pequenas: perdoar quando dói, perseverar na fé quando há silêncio, dizer não ao pecado quando ele parece atraente, aceitar com amor as cruzes cotidianas. Esses atos, unidos aos sins de Maria e de Jesus, tornam-se sementes de salvação no mundo.
Santa Teresa D’Ávila nos ensina que a verdadeira oração leva à conformidade com a vontade de Deus. E Santa Teresinha do Menino Jesus, no caminho da infância espiritual, mostra que até as menores renúncias, feitas por amor, têm valor eterno.
Conclusão: O “sim” que muda tudo
Celebrar a Anunciação é ser lembrado de que Deus age quando alguém se dispõe a dizer “sim”. Que a tua vida, Wesley, seja como a de Maria — disponível, obediente, fecunda. Que o Espírito Santo te forme interiormente à imagem de Cristo, para que em tudo possas dizer como Ele: “Eis que venho, Pai, para fazer a tua vontade.”
Hoje, diante da Anunciação, nos ajoelhamos em silêncio e gratidão. Um sim mudou a história do mundo. Que o nosso também possa mudar nossa história pessoal.